quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Intercâmbio profissional para filhos de empresários

Um dos principais diferenciais de um profissional na área de administração é a importância e a relevância da experiência prática adquirida naquilo que se propõe a fazer. E considerando esse pensamento é que coloco uma dúvida na cabeça dos empresários que encaminham os próprios filhos para profissionalizar-se em suas empresas: será que a melhor forma de um herdeiro administrar com competência e inovação os negócios da família é aprender a trabalhar ali mesmo, ao lado do próprio pai?

Faço esse questionamento baseado em partes em minha própria experiência de vida. Ter trabalhado sob a gestão de diferentes líderes, ao lado de diferentes pessoas, liderando diferentes funcionários, para buscar diferentes objetivos e enfrentando diferentes problemas ajudou-me a amadurecer e desenvolver múltiplas capacidades de enxergar melhor o trabalho, os processos e as pessoas.

Não me considero um profissional excepcional ou superior a alguém, e sei que a cada dia aprendo coisas novas. Mas as experiências que tive a sorte de obter no decorrer de minha vida profissional hoje são um diferencial indispensável para realizar o meu trabalho, o qual utilizo a favor das empresas onde trabalho.

Onde eu quero chegar com essa introdução é no quanto um profissional, filho de um empresário bem sucedido, é capaz de desenvolver em uma empresa onde não corre o risco de demissão, onde seus fracassos são tolerados, onde sua carga horária é flexível, onde seu salário é variável e onde ele é respeitado incondicionalmente não apenas pelos seus liderados, mas também pelos seus líderes.

Talvez nem sempre todos esse pontos aconteçam nas empresas familiares. Mas via de regra estão ali indiretamente não só na cabeça do filho, mas na de todos os colaboradores que convivem com ele.

Minha sugestão para o tópico é que haja uma troca de contratações entre os filhos de empresários do mesmo ramo de negócios, promovendo assim um intercâmbio profissional sério e com fins de desenvolvimento pessoal para o trabalho.

Os donos de indústrias, por exemplo, poderiam intercambiar seus filhos, promovendo o ganho de experiência em um ambiente "hostil", quero dizer, onde ele será tratado de fato como um colaborador comum e sem vínculos afetivos. Ali cada um terá que dar o melhor de si, terá que "engolir sapos", terá que conquistar a simpatia de seus colegas de trabalho, terá que se acostumar a passar raiva quando contrariado ou quando for vítima de outros trabalhadores sem experiência.

No intercâmbio os filhos terão que aprender a vender suas opiniões e também a acatar opiniões divergentes das suas. Irão sentir na pele o que é a rejeição de propostas e o peso da desmotivação em manter-se em um ambiente onde ele não concorde com os procedimentos impostos. Sentirão também como é ser criticado ou repreendido na presença dos demais colegas de trabalho, e saberão como a empresa lida com seus problemas particulares, de saúde ou financeiros.

Estar na condição de empregado é a melhor escola para aprender a liderar. Sentir na pele a desmotivação no trabalho é o melhor jeito de aprender a motivar liderados.

Acredito com toda a minha força que conhecer o ambiente de trabalho em diversas empresa é uma ferramenta poderosíssima para a valorização de um profissional, e principalmente se esse profissional estiver engajado em assumir uma empresa ou grupo familiar. Não é raro ver filhos acabando com todo o patrimônio construído pelo pai, fazendo isso após assumir um negócio no qual ele não tem experiência suficiente para dar continuidade em um cenário muito mais competitivo e concorrencial do que nos tempos em que seu pai iniciou o negócio.

E para aqueles que gostam de empreender, eis aqui uma sugestão de consultoria pouco explorada comercialmente: empresa promotora e gestora de intercâmbio profissionalizante dirigida à formação de sucessores.

Um comentário:

  1. Adriano, excelente texto. O que se deve pensar em casos assim é a separação do lado pessoal (pais e filho) e o profissional (funcionário). Talvez uma saída para o pai que realmente quer fazer do seu filho um profissional é deixá-lo com um excelente líder, cabendo ao líder as decisões sobre o profissional (filho). Mas cada um tem sua gestão e quando se fala em empresas familiares há de se ter cuidado, para não fracassar e para não deixar a família falar mais alto. É o que penso. Abraços!

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