quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A cultura organizacional em conflito com as novas gerações

Hoje participei de um fórum onde o assunto era o conflito de gerações: as organizações estão preparadas para conviver pacificamente com as diferentes gerações? Minha resposta foi: NÃO.

E a prova disso é a não compreensão de que o mundo da nova geração é mais digital do que materializado fisicamente. Em outras palavras, a nova geração relaciona-se com o mundo e com a sociedade via internet, e não é por acaso. O trânsito e a vida corrida das capitais não permite mais que o corpo a corpo se faça presente com a frequência de antigamente. Hoje a faculdade é uma realidade de um alto percentual do público jovem, que já não depende mais só das universidades públicas gratuitas para ter sua formação de qualidade a custo acessível, o que lhes absorvem ainda mais o tempo e a energia física e mental.

Com isso, as pessoas precisam manter sua rede de relacionamentos inclusive em horário de trabalho, o que não é aceito e nem compreendido pela maioria dos patrões. Isso causa insatisfação com o emprego, além de uma sensação de solidão e consequente depressão, onde a vida do cidadão resume-se a comer, trabalhar, estudar e dormir (se der tempo...).

Além disso, com a introdução de técnicas administrativas como o 5-S o mundo corporativo misturou os benefícios do programa com a retirada da personalidade e da individualidade do profissional em sua própria mesa de trabalho. O que há de errado com o porta-retratos, o vaso de flores, os adesivos "Jesus te ama" colados no monitor ou outros adereços que compõe a alegria de quem opera naquela mesa? Aplicar o 5-S e podar a liberdade de expressão no ambiente de trabalho transformando-a num poço de formalidade mata qualquer expectativa de se conquistar a satisfação de um profissional da nova geração.

A nova realidade social obriga as empresas a estabelecerem uma nova rotina organizacional: trabalho com foco nas atividades, e não na carga horária; trabalho com horário alternativo, e não das 8h às 18h; trabalho conciliado com outras atividades, e não engessado na sua descrição de cargos; trabalho como extensão do próprio lar, e não como um ambiente mentalmente insalubre.

Mas isso infelizmente ainda não está incorporado na cultura das empresas, talvez porque ninguém acredite que o brasileiro tenha a responsabilidade necessária para trabalhar nesse formato. Não seria esse o momento de quebrar um paradigma e dar voto de confiança à nova geração?

"Mostre-me o quanto você produz, e não o quanto você trabalha".
"Mostre-me o quê você faz, e não como ou onde você faz".
"Mostre-me quem você é, e não o quê você é".

3 comentários:

  1. É isso mesmo, Adriano, concordo plenamente com você, as pessoas até estão mais à frente do seu tempo que as organizações, que ainda acreditam na filosofia do "bater o cartão" para trabalhar.
    Hoje, com celular e notebooks, as pessoas não páram de trabalhar nem mesmo quando estão fora do seu local de trabalho.
    Mas eu ainda acredito que as empresas vão saber distinguir o que preferem dos seus funcionários e colaboradores, se o cumprimento das horas de trabalho ou a melhor produtividade advinda de responsabilidades e flexibidade oferecidas aos colaboradores.
    Grande abraço,
    Romeu

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  2. Adriano, para a sua pergunta no início do post, concordo com vc que a resposta é NÃO. Contudo, na minha opinião, o mundo é mais digital do que materializado fisicamente não apenas para a nova geração. Eu não sou da nova geração, Ao contrário, estou saindo de cena, pelo menos do mundo dos contra-cheques, aos 50 anos. Comecei a trabalhar aos 19 anos quando ainda não existia caixas eletrônicos de bancos nas ruas 24h por dia. Isso era algo apenas embrionário na época. Computadores em escritórios era um sonho ainda distante com um Brasil de mercado fechado (mesmo porque eles ainda não tinham sido postos no mercado em 1979). E com tudo isso, considero-me uma pessoa batante digital. Abomino ver filas nos bancos porque as pessoas têm ainda medo de usar a internet. Então, penso que não dá pra generalizar muito neste quesito.

    Os 5S (seiri, seiton etc rsrs) dos japoneses não é de todo ruim. Explico. Não sou contra porta-retratos, plantinhas, ou mesmo um adesivo "Jesus te ama" no PC, mas o problema é o exagero. Há pessoas que não têm nada disso nas mesas, mas vc mal consegue enxergá-las por trás de pilhas de papel inútil em pleno mundo digital. Isso é falta de organização, sim, na minha modesta opinião. Sempre trabalhei com um porta-retratos com uma foto da minha filha e nunca tive nenhum problema. Não tinha plantinhas na mesa porque elas morrem em ambientes sem luz natural e janelas trancadas. Sempre tive em minha mesa, lembranças que ganhava dos colegas de trabalho. O que sempre fiz foi não cair no exagero, senão não haveria espaço mesmo para trabalhar. E minha mesa nunca teve papéis espalhados, muito menos com informações que não interessam a quem não faz parte da equipe. Isso eu acho que é organização e até mesmo um certo "asseio". O pessoal da limpeza não limpava mesas que tinham muitos enfeites ou papéis espalhados, pois se algo sumisse de alguma mesa, eles seriam os culpados. Com isso, as mesas desarrumadas ficavam também sujas. E uma coisa leva à outra.

    Você conhece um pouco da minha personalidade e estou muito longe de ter me deixado transformar num poço de formalidade.

    Quanto a manter sua rede de relacionamentos, inclusive em horário de trabalho, eu mesma nunca tive esse problema, pois manter seu networking durante o expediente não quer dizer necessariamente estar conectado ao LinkedIn ou outra rede desse tipo. Entretanto, sempre estive em contato com colegas de outras empresas do mesmo segmento, fornecedores, profissionais de outras áreas etc.

    A nova rotina organizacional talvez ainda não esteja incorporado na cultura de todas as empresas, mas algumas já estão mais abertas às novidades. Quanto ao voto de confiança, vou precisar discordar de vc. Vc sabe, pela sua experiência de gerente, que não é fácil lidar com esse tipo de responsabilidade por parte da maioria (não todos, é claro) dos colaboradores. A empresa em que trabalhei dava a chance de vc colocar seu trabalho em dia, quando era premente uma entrega, durante o fim de semana em casa. O colaborador entregava o trabalho em dia, e ganhava hora extra, como se tivesse ido ao local de trabalho para efetuar sua tarefa. Adivinha porque não foi à frente esta alternativa para projetos que geravam grande quatidade de trabalho "braçal" em frente ao PC? Exatamente isso. Sempre há os "espertos", né?! O pessoal começou a faltar durante a semana, alegando reuniões em outros prédios da empresa. Quando chegaa a sexta-feira, a pessoa estava lá para dizer que não teve tempo para a entrega do trabalho. E aí, já viu, o justo acabava pagando pelo pecador.

    Na verdade mesmo, Adriano, acho que o conflito de gerações não passa pelos pontos que vc enumerou. Eu teria de escrever ainda mais para falar disso, na minha modesta opinião, é claro.

    Abração procê

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  3. Eliane, excelentes colocações e perspectivas, concordamos em quase tudo, rsrsrs. Sei que muito do que acredito ser ideal infelizmente é impraticável ainda, pelo menos dentro da cultura vigente do brasileiro. Porém nunca descarto formatar-se uma nova realidade através do experimento, apostando que a reação à uma mudança na cultura organizacional pode ser bem mais positiva do que o esperado. Para cada ação há uma reação, e podemos nos surpreender com a reação positiva, assim como já nos frustramos com algumas reações negativas, como você narrou. Desde que a linguagem da mudança seja visível em todos os níveis, acredito realmente que podemos alcançar um novo patamar de comportamento e responsabilidade no ambiente de trabalho.

    O 5-S sou a favor também, e aplico nos lugares por em que passo onde não há senso de organização e controle. Porém não concordo com a padronização do ambiente de trabalho, onde o funcionáio poderia colocar uma pitadinha da sua personalidade naquela mesa onde permanecerá por boa parte de sua vida sentado. Trabalhei em empresas que proibiam até o uso de imagens pessoais no papel de parede do micro de uso individual. Pois se a pessoa quer ter a foto do filho na tela, que prejuízo isso pode trazer à empresa?! Acho que o respeito e o incentivo da expressão das individualidades deve ser considerado.

    Também acredito que o mundo digital está muito presente na vida de todos, mas não apenas no aspecto da informática como ferramenta de trabalho. As novas gerações, mais do que as outras, têm nas redes sociais seus relacionamentos em larga escala, e deixar de acompanhá-las com alguma frequência lhes provoca uma incômoda sensação de "desatualizadas", e consequente queda de satisfação no emprego em si.

    Um ótimo final de semana!

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