segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma Barbie careca melhoraria a autoestima de uma criança doente?!


Esse é um post que demorei um pouco para escrever porque estava ainda digerindo a ideia a respeito de um assunto tão complexo. O fato é que há um apelo popular rolando nas redes sociais para que a Mattel produza uma boneca Barbie careca.

A ideia é que a boneca ajude crianças a lidar com a perda de cabelo provocada pelo tratamento contra o câncer ou por alguma outra doença, como a alopécia e a tricotilomania. Os pais de crianças com câncer, que iniciaram a campanha, acreditam que a iniciativa pode aumentar a autoestima de seus filhos doentes (ou que veem seus parentes doentes), pois, ver um símbolo da beleza careca, faria com que se sentissem também bonitos e mais incluídos na sociedade.

Em outras palavras, minha análise a essa questão é mais simples do que a confecção da nova boneca faz parecer: a Mattel produz bonecas de acordo com aquilo que a opinião popular valoriza: mulheres de físico escultural, esbeltas, de pele clara, cabelos longos e bem sucedidas. 

Por isso não existem Barbies de classe média, existem poucas mulatas, poucas japonesas, nenhuma indígena ou de ascendência inca (como as sul-americanas do oeste), nenhuma com Síndrome de Down, nenhuma de estatura média, nenhuma obesa e nenhuma de peito caído, ou pelo menos com o aspecto de uma pessoa normal, mãe de três filhos, pois a Ana Hickmann é exceção...

Mas voltando ao assunto dessa boneca, acho triste um pai comprar uma Barbie careca, quando seu maior desejo de fato é ver a filha recuperar-se de um quadro tão amargo. O mesmo eu diria de um pai cuja filha sofre com a obesidade, e que inclusive muitas delas sofrem com esse complexo na escola. Tudo o que uma criança obesa deseja ser é "bonita" igual à Barbie original ou igual à todas as demais crianças magricelas à sua volta. Quem vai querer uma Barbie gorda em uma sociedade que a chamam (mesmo que indiretamente) pejorativamente de GORDA!!

A solução para esse assunto, que em sua essência é o momento complexo de alguém estar com um aspecto diferente daquilo que chamam de "normal", é simplesmente que a mídia pare de valorizar padrões estéticos fazendo com que todos os que não se assemelhem a esse padrão sintam-se feios ou diferentes.

Quem não se lembra daquela novela onde a cena mais comentada foi a Carolina Dieckmann raspando a cabeça para iniciar seu tratamento de câncer? Aquela cena traria conforto a alguma criança na mesma situação? A direção da Globo só pensou no impacto dramático e na interpretação da atriz naquele momento, mas não imaginou o quanto aquilo doeu no coração de tantas famílias.

E cabe aqui mais uma crítica à emissora e ao Sr. Pedro Bial e seus comentários sobre o shape das beldades do BBB. A insatisfação com o próprio corpo e a não aceitação de si mesmo na forma como estamos é o preço que todos nós pagamos por dar valor aos veículos de comunicação de maior audiência desse Brasil, onde a casca vale mais que o conteúdo. 

O dia que o conteúdo tiver mais valor do que o aspecto exterior pouca gente se importará com quem está careca, gordo, banguela ou com a perna torta. Antes de produzirem uma Barbie careca acho que deveriam produzir uma Barbie inteligente, que passasse menos tempo desfilando e mais tempo estudando. E quem sabe assim a mídia pare de mostrar pessoas de corpo escultural nas novelas e passe a mostrar pessoas reais, em atividades reais e com sentimentos reais, independente de seu peso, altura ou largura.

Por isso não vejo em quê uma Barbie careca ajudaria a aliviar a dor de crianças com câncer. Ali vale mais o apoio dos pais em fazê-las sentir-se bem a vontade, conviver e divertir-se com elas como crianças normais e principalmente fazê-las sentir-se felizes em seu dia a dia, fugindo daqueles que preocupam-se demais com a beleza e aproximando-se dos que falam mais sobre a felicidade.

2 comentários:

  1. Ainda estou digerindo este assunto (como você bem colocou) e seu post me fez pensar em algumas coisas. Gostei da idéia de uma barbie inteligente, me faz imaginar como seu lindo e sedoso cabelinho ficaria depois de uma semana dormindo 3hs por noite para escrever uma dissertação, hehehehehehhehe. Brincadeiras a parte, acredito que a intenção do movimento pela barbie careca seja a de chamar a atenção para a doença, e que isto possa ajudar alguém de alguma forma. Mas ainda não vejo como seria possível, ou se a empresa acharia isso comercializável. Mas cabe lembrar que já existiu a barbie cadeirante (Becky) e que uma única boneca careca foi feita para uma menininha.

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  2. Eloisa, o tema é de fato muito indigesto, pois além das crianças nesse processo de quimio onde perdem os cabelos, há milhares de crianças e adolescentes em situações de complexo do próprio corpo por não se verem retratadas em praticamente nenhum lugar na mídia. É o padrão de beleza estabelecido pela sociedade que torna "anormal" quem estiver diferente daquilo que chamam de "bonito".

    Nesse contexto acho que a Barbie é o menor dos recursos para reverter esse processo de baixa autoestima. Acredito sim que deveria haver uma melhor sensibilização das emissoras de TV de tirarem o foco das beldades e intensificarem o uso de pessoas normais em suas novelas e programas de TV. Quem sabe alguns artistas até não lancem a moda de andar carecas, influenciando a sociedade a copiar e quebrar essa norma de que quem está careca é diferente... Já pensou se uma criança careca recebesse de presente uma Barbie careca, como ela iria brincar com a boneca?! Iria fazer do brinquedo um personagem doente também, retratando o próprio momento em que está vivendo. Muito triste essa hipótese...

    Grande abraço, obrigado pela visita!

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