sábado, 8 de janeiro de 2011

Reciclagem: você faz a sua parte. Mas e o município, faz a dele?!

Essa semana fui entrevistado pela repórter da TV Anhanguera pra o (Jornal Estadual 1a. Edição) a respeito do perfil dos consumidores do supermercado quanto ao uso de sacolas plásticas para embalar as compras.

Segundo a repórter, a campanha nacional para redução de lixo descartado no meio ambiente alcançou êxito de 30% diante dos índices anteriores, fato que não foi alcançado no estado do Tocantins. Nesse estado, segundo a reportagem, ainda engatinha-se quanto a conscientização da população...

Daí veio a minha análise:

1 - O serviço de coleta de lixo da capital, Palmas, não dispõe da verba necessária para realizar com eficiência o serviço trivial de coleta na ampla e mal distribuída cidade do ponto de vista habitacional. Explico: Por ser planejada para ser grande, Palmas possui bolsões habitados e outros vagos, de modo que se fosse como a maioria das cidades que vão crescendo de dentro para fora, seria uma cidade compacta. Mas como não é, já possui avenidas principais que cruzam toda a sua longa extensão, Palmas tem grandes lacunas ainda não loteadas dividindo espaço com uma ou outra quadra totalmente habitada. Isso encarece e reduz a eficiência da maioria dos serviços públicos disponíveis.

2 - Por não possuir serviço de coleta seletiva e nem caminhões de lixo com alavanca para coletar caçambas, todo o serviço de coleta é realizado exclusivamente por homens, que pegam e jogam os sacos de lixo com as mãos diretamente no caminhão. Assim, separar metais, vidros, plástico, papel e lixo orgânico em casa dá na mesma, vão tudo para o mesmo lugar, desde que estejam embalados em sacos plásticos. O que estiver na lixeira fora de sacos plásticos não costuma ser coletado, como grandes caixas de papelão, isopor, e coisas desse tipo que geralmente embalam produtos grandes como TV, geladeira, etc.

3 - A cidade também não tem aqueles conhecidos catadores de lixo reciclável com carrinho puxado a mão, que rodam pelos bairros coletando o que pode ser vendido para cooperativas de compras desses materiais.

4 - A cidade não tem empresas que comprem os produtos reciclados a um preço atraente para quem coleta.

5 - Por ser uma cidade muito ampla, o serviço de coleta para puxadores de carrinhos de mão é muito desgastante, o que demandaria vários depósitos de compra desse lixo distribuídos de modo a permitir que se trabalhe com coleta em espaços geográficos não tão longos.

Em resumo, a cidade não possui praticamente nenhuma estrutura que facilite o trabalho de preservação do meio ambiente através da separação de lixo reciclável!!

Palmas está praticamente virgem nesse contexto, e conscientizar a população sobre a importância da separação do lixo vai trazer a tona a seguinte pergunta: estou conscientizado, o que faço agora?! Porque definitivamente, o mais consciente consumidor daqui não pode fazer nada diferente de evitar jogar coisas no chão da cidade, porque de resto nada mais adianta ser feito.

Em relação ao supermercado, que é a minha atividade atual, poderíamos sim oferecer caixas de papelão para os clientes levarem suas compras. Mas isso os obrigaria a comprar sacos próprios para embalar seu lixo residencial, além de um saco a mais para embalar as caixas de papelão que não serão coletadas por ninguém lá fora, a título de reciclagem.

Pedir aos clientes que tragam sacolas de pano para o supermercado a fim de carregarem suas compras também não reduzirá a poluição, pois ao invés de embalarem seu lixo em sacolas de supermercado, terão que embalar em sacos plásticos comprados, o que para o supermercado é bom, mas para o meio ambiente dá na mesma...

Já que não estamos no primeiro mundo e seria muito ambicioso comentar sobre o serviço de coleta adotado na Alemanha ou na cidade de Madri, temos que buscar opções caseiras, tipo aquela do meu tempo de infância onde o lixo ficava depositado dentro de um tambor de tinta na calçada de casa, e o lixeiro virava o tambor no caminhão de coleta e o jogava de volta para o portão...

8 comentários:

  1. Saudades daqui..."oh menino que escreve bem'...o que vejo por aqui não é muito diferente. A pouco foi instalado a coleta seletiva no bairro, lixo se amontoa pela cidade que acredito eu sofrer o contrário. Pouco espaço para muita gente. Quando posso dispenso a sacola plástica, mas são elas que usamos no dia a dia para por o lixo doméstico. Beijocas e que 2011 seja especialmente bom.

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  2. Oi Adriano. Imagino que seja desafiador administrar Palmas, mas nada que uma equipe pensando junta não resolva com criatividade para resolver os problemas da cidade em particular.

    Aqui no Rioa coleta seletiva ainda é privilégio da zona sul da cidade, na zona norte, se existe, eu desconheço os bairros que a possuem, a Ilha do Governador não tem coleta seletiva. Dá tristeza ver que garrafas PET, latas, vidros, orgânico, tudo que eu separo na minha casa, é jogado no caminhão tudo no mesmo lugar e massacrado pela prensa. Ainda assim, eu separo para criar o hábito e enraizá-lo. Tão logo a seletiva chegue (não sei quando), estarei preparada pra ela.

    Costumo comprar meus sacos de lixo, apesar de serem plástico, o que não é o ideal. No supermercado, comecei com uma bolsa retornável, passei para 2 e agora todas são retornáveis. Sei que ainda é uma gota no oceano, mas se não começarmos assim nunca daremos o primeiro passo. Outra coisa que reparei é que no supermercado que eu frequento, a maioria das pessoas está usando sacolas retornáveis. Vejo com entusiasmo que o pessoal está fazendo isso, apesar de ser mais por modismo do que por consciência ambiental.

    Continua...

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  3. Continuando...

    Uma coisa que eu queria comentar com você. Estive no mercado na 4ª feira passada à tarde e resolvi, então, fazer uma pergunta à atendente do setor de frios a varejo. Eles costumam deixar bandejinhas de frios pré-embaladas para facilitar ao cliente e não fazer muita fila. OK Entendo isso. Mas veja, se eu for comprar 300g de queijo ou presunto, tenho de escolher 3 bandejas pré-embaladas, enquanto que se ela fatiasse o produto na hora, conforme a demanda, economizaria 3 bandejas de isopor e usaria apenas um pedaço de plástico filme.

    No meu caso eu ponho na sacola retornável, mas a maioria do pessoal ainda usa, além do material das bandejinhas, as sacolas plásticas. Perguntei à menina se ela tinha para fatiar todos os produtos expostos nas bandejinhas e ela me disse prontamente que sim. Então deixei as bandejas e pedi o queijo fatiado e ela disse, "mas desse tipo de queijo, senhora, não tenho, só na bandeja", e quanto ao presunto sem gordura... "Desculpe, senhora, mas sem gordura só mesmo na bandejinha". Ou seja, dá uma tristeza danada. Eu até quero fazer minha parte, mas não é a cultura que está arraigada no Brasil. Você disse bem no post, "não quero citar o sistema de coleta da Alemanha ou da Espanha". Pois é, eu não conheço, mas me pergunto como será o sistema de coleta norte-americano? Porque nosso modo de consumir é igualzinho ao deles.

    Longe de mim comparar os supermercados de Palmas com as grandes redes do RJ e SP, mas as grandes não têm porque não fazer a parte delas. No caso das bandejinhas de frios, realmente é o caso de eles gastarem mais para poderem ser "sustentáveis". Por que não 2 ilhas de frios em vez de uma única? Uma poderia ser só de queijos e outras conservas. A outra só para presuntos, salames e afins. Isso daria mais um ou dois empregos a cada turno da loja. É caro? Óbvio que é. Um empregado no Brasil é caro, mas isso é sadio, pois o país em que a mão-de-obra é barata demais, é sinal de pobreza do país, que tem trabalho semi-escravo.

    O caso é que nós todos sabemos que, para as grandes redes de RJ e SP, 10 empregados a mais não é nenhum prejuízo, ao contrário, é um investimento na marca deles. Eles esquecem-se de ponderar o ganho "indireto" que virá em forma de novos clientes, por exemplo, com a marca de que estão fazendo algo para ser sustentável. E algo concreto, que o cliente pode ver e tocar.

    Se os custos de gôndolas estão nas alturas e as mercadorias cada vez mais altas nas prateleiras, os donos do negócio vão ter de, mais dia menos dia, abrir mão de uma pequena parte do percentual do lucro. Caso contrário, a conta não fechará. Isso é fato, Adriano. É questão de tempo.

    Abraços

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  4. Oi Adriano1
    Vc sabia que a cidade onde eu moro Itabira/Mg tem coleta seletiva e recicla todo o lixo produzido?
    Para saber mais: http://www.viacomercial.com.br/2010/09/23/coleta-seletiva-em-itabira-completa-19-anos-e-hoje-e-feita-em-todos-os-bairros/

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  5. Oi Taia! Que bom que voltou a ativa nas visitas, rsrsrs. Imagino que em seu país africano os hábitos devem ser diferentes, com suas características próprias. Mas no Brasil devem haver ainda muitas cidades onde pouca coisa é feita com relação ao tratamento de lixo. Poderia nos dizer em detalhes como é a cultura do povo de Zambia e como as cidades tratam o lixo, que tal?

    Bjs

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  6. Fátima, fico sempre impressionado com a qualidade da gestão pública de sua cidade! O Centro de Educação Ambiental é uma excelente iniciativa, e deveria ser copiado por outras cidades.

    Na Maringá, onde vivi por 15 anos, também é de tirar o chapéu a cultura do povo e a responsabilidade da prefeitura nesse e em outros quesitos. Aqui na jovem Palmas as coisas estão devagar, mas tenho fé que o novo secretário implantará em breve boas mudanças (o conheço pessoalmente, é homem sério).

    Grande abraço!

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  7. Eliane, sabe o que mais me impressiona: a sua disciplina e perseverança naquilo que acredita. Mesmo quando o contexto não colabora você permanece firme fazendo o que é certo, mesmo que num primeiro momento seja em vão...

    Agora, os supermercados ainda estão naquela de lucro a qualquer preço, mesmo que custe caro ao meio ambiente. Fazer reciclagem, só mesmo se for para fazer um "caixinha extra" com a venda de lixo separável.

    O Wal Mart tem uma iniciativa sustentável muito boa nesse sentido, e vale a pena conhecer: http://www.radarverde.com.br/2009/04/wal-mart-sustentavel-tambem-em-sao-paulo/

    Sobre as embalagens de isopor para frios, esse ainda é um tabu a ser quebrado, pois esbarra no conflito entre velocidade de atendimento x sustentabilidade. Para o mercado, satisfazer o conceito de fast service através de atendimento pessoal é muito difícil, pois esbarra na sazonalidade diária e promocional. Em outras palavras, uma equipe que dê conta de atender pessoalmente cada cliente sem formar longas filas nos horários de pico e finais de semana, ficaria ociosa durante 70% do seu tempo de serviço... e dói no bolso do patrão, rsrsrs.

    A saída para isso são os frios embalados a vácuo, que dão consistência ao produto exposto, aumentam a vida útil do produto e evitam o uso de bandejas (que só servem para dar firmeza ao produto exposto em pé). Afinal, o isopor leva 8 anos para se decompor no meio ambiente.

    Grande abraço!

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