terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cap. 2: Eis aqui o novo mundo!


Afrânio mal podia esperar pela segunda-feira para rever seus velhos amigos de trabalho e recomeçar a fazer o que já lhe dera muito prazer e dinheiro. Fora pioneiro em sua cidade, conhecia seus clientes pelo nome e tinha total controle mental e visual de quem entrava, saía, pagava à vista ou marcava na caderneta o pagamento para o próximo dia 10.

Segunda-feira chegou, e lá estava ele às 6h da manhã na porta da loja junto a mais de 30 funcionários dos diversos setores.

Parou e observou a rotina de todos quase que simultaneamente: a turma do açougue iniciou o processo de produção das peças embaladas e abastecimento do expositor refrigerado e ilhas de congelados; o pessoal da padaria iniciou a exposição dos produtos no balcão, a substituição dos produtos com validade menor que 2 dias e o processo de fabricação de novos produtos; a turma da feirinha foi abastecendo a área de venda e realizando a classificação dos produtos ideais para venda, além da limpeza das cabeças de repolho, cebola, alho a granel e recebimento das cargas recém chegadas do CEASA; a equipe de operadores de caixa e pacoteiros foram organizando e limpando seus equipamentos, abastecendo as mini-gôndolas, levando os carrinhos para a frente da loja e fazendo a contabilidade para início do trabalho com o dinheiro e moedas para troco na máquina registradora; a equipe de reposição trabalhava como um exército de formigas indo e voltando do depósito com caixas e mais caixas de produtos para abastecimento de cada seção de mercearia seca e bazar; o cartazista trabalhava a todo vapor para abastecer os repositores de todos os departamentos com os cartazes de oferta e destaque, segundo as orientações dos encarregados e o roteiro de ofertas anunciadas; os meninos do depósito recebiam os caminhões de entrega e conferiam as cargas com o número de volumes constantes nas notas fiscais, além de direcionar cada tipo de produto para a seção específica no depósito; as meninas do CPD faziam a conferência das notas fiscais de entrada com as ordens de compras lançadas no sistema para liberar as transportadoras com o canhoto de recebimento, além de imprimir as etiquetas de preço e substituir na área de vendas todas as etiquetas que tiveram alteração na virada do dia.

Enfim, o dia começava num ritmo alucinante, bem diferente daquilo que Afrânio esteve tão habituado no pequeno mercado que tornou-se essa grande rede.

Às oito horas em ponto finalmente chegou o momento de abrir as portas para os consumidores, e alí seria um grande reencontro entre o homem que deu origem a tudo isso e seu fiel grupo de amigos e clientes de tantos anos.

Mas tamanha foi a surpresa do Seu Afrânio quando deparou-se com um grupo relativamente discreto de umas 20 ou 25 pessoas que ele jamais vira naquela redondeza entrando com um pouco de pressa e rumo certo para cada corredor da loja... muitos mal lhe olharam nos olhos para dizer "bom dia".

O Supermercado Feijão com Arroz definitivamente não era mais o mesmo em todos os aspectos: a rotina era toda informatizada, a equipe operava tudo quase sem a supervisão de ninguém, o mix de produtos era infinitamente maior do que aquele de 20 anos atrás, e a clientela... sim, a clientela era outra, com novos hábitos, novo estilo de vida e muito, mas muito mais opção de compra na praça em caso de algum descontentamento com a loja, sem dar muita satisfação a quem desejava vender.

Afrânio começava a entender que o mercado evoluiu em sua forma de gestão e tecnologia da informação, e paralelo a isso toda a sociedade também mudou seus hábitos, necessidades e percepção precisa do que realmente esperam de um estabelecimento comercial.

Ah, e as pessoas que antes compravam e sentavam em frente a sua mesinha de trabalho já não estavam mais lá. Quem vinha comprar agora eram seus filhos, netos e novos moradores que ele sequer imaginava de onde vieram, quais eram seus produtos preferidos e qual era o dia ideal para pagarem suas contas.

O problema agora dobrara de tamanho: Seu Afrânio pretendia reverter a queda no faturamento, mas antes precisava reciclar-se para compreender o novo mercado consumidor para adaptar a veloz tecnologia e gestão de pessoas ao seu velho modo de atender bem, fidelizar e proporcionar um maior valor nas compras de cada cliente.

Ele então respirou fundo e começou a caminhar para o interior da loja, decidido a compreender a nova realidade e buscar respostas para a questão principal: onde estamos errando? Sua saga estava apenas começando.

Continua...

6 comentários:

  1. Muito bom, aguardo a continuidade. Em minha cidade ainda há pequenos bolichos mas todos já aceitam cartão de crédito...hehehe. São os tempos modernos. Abraço e boa semana.

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  2. Olá,Adriano!
    Aguardo a continuação da história.
    Chamou-me a atenção que o espírito dele é empreendedor,ele não desistiu ou se corrompeu,pôs a buscar como 'adequar' aquela situação.
    Saudades!
    Abraços!

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  3. Muito interessante!
    Vamos ver o que acontece.
    Bjs.

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  4. Seu Afranio é dos meus!!! Adelante, seu Afranio... só não vale vender as lojas para uma multinacional qualquer...

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  5. Fala Rapaz!
    Fazia tempo que estava devendo uma visita.
    Muito bacana seu blog.
    Um abraço!

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  6. Amanhã tem lançamento de brincadeira lá no blog. Te espero.

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