quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Direitos Humanos: a hipocrisia em forma de poesia

Como é bonito ver os governos e políticos falarem de Direitos Humanos! Lutam para mudar os costumes milenares muçulmanos, as práticas culturais africanas, a ditadura política cubana... e até os credos indígenas são colocados em cheque em prol dos "direitos humanos".

Cá entre nós, quem é que aguenta assistir a tanta hipocrisia e papo furado quando assuntos relacionados à existência e sobrevivência da população nos próprios países reclamões são tratados com tanto desdém?! Na Europa, continente reconhecidamente desenvolvido, moradores de rua estão morrendo de frio aos montes em um dos invernos mais rigorosos dos últimos anos. No Brasil morrem também mas não é de frio. É devido a criminalidade e ao mercado crescente da droga. Sem falar na falta de saneamento básico, como no Pará, e de infra-estrutura urbana em Santa Catarina, que se desmancha e alaga até com garoa.

Enquanto isso, na África, milhares de pessoas morrem nas guerras civis e na falta de saneamento em vários países, além da fome e da falta de assistência médica apoiados timidamente muito mais por ONG's do que pelos governos mais ricos.

Os Direitos Humanos deveriam ser dirigidos à sobrevivência das pessoas, e não aos hábitos ou a fatos isolados, por mais estranhos que possam parecer, de cada nação.

Nesse aspecto Dilma foi correta em não atacar o regime cubano enquanto esteve na casa deles, afirmando aliás, que todo mundo tem os mesmos problemas e que não se deve jogar pedra na casa dos outros quando o próprio telhado é de vidro... Mas continua omissa em solucionar problemas solucionáveis no Brasil.

Quando um grupo de países liderados pelos EUA e Inglaterra decreta um embargo comercial a outra nação, como ocorre com Cuba, Afeganistão e Irã, esse é o maior ato de covardia que se tem notícia, pois quem sofre é o povo. Por motivos políticos, comerciais e militares, toda uma população é punida com o aumento do custo de vida e da miséria.

Portanto, quando alguém gasta saliva criticando a "qualidade de vida" das prisões nacionais e internacionais como um desrespeito aos direitos humanos dos prisioneiros, além de reclamarem do uso de burcas ou de "ritos de passagem" de outros povos, ou de reclamar do regime político ditatorial dos outros, deveriam antes preocupar-se com os direitos de quem está solto e buscando viver, ou sobreviver, dignamente.

Os engajados na luta pelos direitos humanos precisam primeiramente fazer pressão aos governantes por promover a moradia e os meios de vida, ou seja, promover emprego para que cada família se mantenha. Cuidando bem disso, em consequência, muitos problemas se resolvem: escolaridade, criminalidade, saúde, etc. Todas as etapas que pulem esse pre-suposto são meramente dispêndio ilimitado de dinheiro...

No Brasil tornou-se rotina ver pessoas mendigarem consultas e internações em hospitais públicos, justamente onde recolhe-se uma imensa carga tributária no contrato de trabalho para suprir essa necessidade. Aqui as pessoas sofrem o desrespeito e o descaso do governo com saneamento básico e medidas preventivas para as catástrofes naturais que acontecem todo ano: as chuvas. Quem aqui não conhece o período de chuvas e enchentes? Por que é que nenhum governo foi capaz de intervir preventivamente contra esse descaso aos cidadãos de vários estados? De que vale o Bolsa Família, Bolsa Escola e outras bolsas se as pessoas estão morrendo debaixo de viadutos, na porta de hospitais e no vício das drogas?! Economicamente o Brasil vai bem, mas socialmente continuamos na mesma e vergonhosa esfera do descaso.

Muitos ficam por aí protegendo cachorros, baleias e macacos, mas não vejo esforço convincente a favor do ser humano, no que está previsto nas primeiras páginas da Constituição Federal de 88, o marco da democracia no Brasil, a não ser dos que lutam contra a super-lotação dos presídios e outros descasos que são consequências da morosidade e da irresponsabilidade.

Há algo de errado com nossa escala de valores e determinação de prioridades na cultura social...

4 comentários:

  1. Bravo, Adriano! Bravíssimo! Tem certas coisas que eu também não consigo compreender. Tipo, quando o Brasil doou milhões de reais para ajudar o Haiti, na época do terremoto. Oras! Isso não seria atitude para os países ricos? Por que o Brasil não se empenha em ajudar o seu próprio povo, mudando a estrutura social, oferecendo alternativas, investindo no que realmente importa?

    Nunca saberemos.

    Beijos, querido.

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  2. Adriano , você se supera a cada dia. Nos assuntos polêmicos
    tem uma visão global espetacular, enquanto os responsáveis ou melhor quem ganha para isso se limita em focar casos isolados. Eles não se importam com os Direitos Humanos, nem dos Animais, nem Direitos do Planeta... Vão se preocupar sim se as doações ou verbas diminuirem. Acorda Brasil !!!

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  3. Eu parei neste blog por que estou estudando direitos humanos neste exato momento e tentei encontrar alguém que tivesse alguma opinião crítica sobre o assunto, nos livros tudo é muito bonito...

    não concordo com tudo que vc disse, mas concordo em grande parte ou na idéia central da crítica...

    os direitos humanos começaram a ter importancia no mundo após o fim da segunda guerra mundial, inegável as atrocidades cometidas e inegável também que a principal prejudicada foi a Europa...após isso, começa uma grande hipocrisia global (digo dos países desenvolvidos) em impor uma visão de mundo para que tudo isso nao ocorra novamente...

    após decádas até hoje o que impera é a fome na afríca, o capitalismo destrutivo, a desigualdade social, a violência e etc...enfim, poderia escrever mais, mas fico nervoso com tanta hiprocrisia...

    Matheus Alonso

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    1. Obrigado pela visita e pelas preciosas palavras que enriquecem o conteúdo proposto, Matheus! A abordagem de direitos humanos esbarra em aspectos distintos e individuais sobre valores, cultura e sociedade, e por isso é natural que nunca haja um consenso a respeito. Infelizmente, quando chega na política ele torna-se ferramenta de manobra e perde seu foco no que realmente importa.

      Visite sempre meu blog e deixe seu ponto de vista, ok!

      Grande abraço,
      Adriano Berger

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